domingo, 16 de junho de 2013

Artigo:COMPOSTOS NITROGENADOS NA DIETA DE VACAS LEITEIRAS DE ALTA PRODUÇÃO E SEUS EFEITOS NA REPRODUÇÃO


Autor: RIBEIRO; DELEVATTI; BERALDO; AZEVEDO; BEZERRA. 

RIBEIRO JUNIOR, C. S. 1; DELEVATTI, L. M. 2; BERALDO, Y. P. 3; AZEVEDO, R. A. 4; BEZERRA, V. M. 5.




As causas subjacentes da ineficiência reprodutiva em vacas que apresentam altas concentrações de nitrogênio uréico plasmático ainda não foram bem esclarecidas. Assim, varias propostas para explicar esse fenômeno foram formuladas na ultima década. Butler (1998), em revisão sobre o assunto, assinala que estabelecimento de prenhez é uma sucessão de eventos ordenados, envolvendo diversos tipos de células agrupadas em diferentes tecidos e que amônia, uréia ou qualquer produto do metabolismo protéico podem atuar em qualquer uma dessas etapas.

Sabe-se que a composição iônica dos órgãos genitais pode ser alterada pela quantidade de compostos nitrogenados que o animal ingere, afetando a viabilidade de espermatozóides, ovócitos ou embriões. Por meio de efeitos no metabolismo celular, resultando em redução da fertilidade (OLIVEIRA, 2001).

Um potencial mecanismo capaz de explicar o impacto do excesso de nitrogênio sobre a reprodução é o efeito toxico direto da amônia sobre o oócito enquanto este ainda se encontra no folículo (DAWUDA et al., 2004).
A implantação e o desenvolvimento embrionário inicial, bem como a manutenção da gestação são dependentes de comunicação materno-fetal intacta, e qualquer alteração com que o embrião deparar-se pode ser decisiva para o insucesso de sua implantação no útero (WOLF et al., 2003).

Segundo Hammon et al. (1997), a maturação oocitária e o desenvolvimento inicial do embrião são modulados pelo microambiente que circunda e este, por sua vez, é influenciado pelo nitrogênio dietético. Hammon et al. (2005) verificam estreita associação positiva entre nitrogênio uréico plasmático e o nitrogênio uréico no fluido folicular (NUFF) e sugeriram que as altas concentrações de uréia ou amônia nos fluidos reprodutivos (folicular e uterino) podem contribuir para a ineficiência reprodutiva de vacas leiteiras. 

De fato, Iwata et al. (2006) reportaram correlação negativa entre desenvolvimento dos embriões provenientes de oócitos extraídos de folículos com alta concentração de uréia em seu fluido.
Estudada em sistema in vitro, a presença de amônia no meio de cultura mostrou causar efeito deletério à fisiologia e a bioquímica do embrião (ZANDER et al., 2006).

Contudo, Ocon e Hansen (2003) não observaram diminuição na taxa de clivagem em oócitos maturados em meio contendo 0, 5, 7,5 ou 10 mM de uréia, equivalentes à concentração de nitrogênio uréico plasmático de 0, 14, 21, 28mg/dL. Houve, porém, diminuição na taxa de blastocistos, mas somente nos clivados submetidos à concentração de 7,5 mM. Em relação aos clivados submetidos a 10 mM, não houve diferença significativa, o que foi explicado pelos autores com um mecanismo natural que o embrião desenvolveria como forma de proteção à agressão do meio da uréia (OCON e HANSEN, 2003).

Também Zander et al. (2006) não verificaram diferenças significativas nas taxas de desenvolvimento de embriões murinos submetidos a altas concentrações de amônia em diferentes momentos da produção in vitro de embriões (PIV), apesar de terem observado aumento da incidência de apoptose, traduzida pela diminuição do número de células totais e de massa celular interna, nos blastócitos que foram expostos durante toda a produção in vitro de embriões à alta concentração de amônia.
Dawuda et al. (2002) e Leven et al, (2004), trabalhando com vacas holandesas lactantes, focaram os efeitos da dieta contendo excesso de uréia sobre a qualidade de embriões recuperados para serem transferidos. 

Ambos concluíram que há ressalvas do potencial efeito deletérico da mesma sobre a foliculogênese e a qualidade embrionária.
Laven et al. (2004) afirmou que uréia introduzida 10 dias antes da IA não foi associada com prejuízos para o crescimento embrionário, tampouco para o desenvolvimento folicular, sugerindo que vacas leiteiras podem adaptar-se a quantidades crescentes de fontes nitrogenadas de rápida degradação ruminal, se estas foram administradas antes da IA.(4)

Rhoads et al. (2004) observaram concentrações medias de nitrogênio uréico plasmático de 22,6 mg/dL em vacas Holandesas e diminuição de 0,2 unidades percentuais no pH uterino seis horas após infusão parenteral de uréia, no sétimo dia de ciclo estral.
Ocon e Hansen (2003) adicionaram dimetadiona, um ácido fraco, ao meio de cultivo de embriões a 10, 15 ou 20 mM por oito dias e verificaram que menos embriões clivaram quando submetidos a concentrações de 15, 20 mM. Em todos os tratamentos, houve menor taxa de desenvolvimento dos embriões até o estádio de blastocisto. Sinclair et al. (2000) afirmou que, a partir de 19 mg de nitrogênio uréico plasmático por dL de plasma, há possibilidade de prejuízos para o desempenho reprodutivo animal, como insuficiência luteal e perdas embrionárias.(4)

Rhoads et al. (2006), trabalhando com receptoras e doadoras de embriões submetidas a dietas com 15 ou 21% de proteína bruta, observaram efeito de dieta da doadora sobre a taxa de prenhez e concluíram que altas concentrações de nitrogênio uréico plasmático devem prejudicar a viabilidade embrionária de vacas de leiteiras lactantes por meio de efeitos sob re seus oócitos ou sobre seus embriões antes de estes serem coletados.

CONCLUSÕES

A uréia é um bom complemento nitrogenado a ser utilizados na suplementação de bovinos a pasto ou confinados e de diversas categorias. No entanto, o aumento da concentração da uréia plasmática gerado pelo desbalanços entre o teor de proteína degradada no rúmen e carboidratos fermentáveis, tem sido associado à alteração de desempenho reprodutivo em vacas. 
Dessa forma, diminuição nas taxas de concepção e prenhez, como a progesterona, já foram respostas observadas (FERREIRA et al., 2008).

A maioria dessas observações foi feita com vacas lactantes de alta produção, o que gerou a hipótese de que há sobrecarga a determinados órgãos, como o fígado, gerando alto custo energético ao animal, agravando o inevitável estado do balanço energético negativo nessa fase (FERREIRA et al.,2008).

De fato já houve relatos da diminuição da taxa de prenhez em receptoras, gestantes de embriões gerados em doadoras alimentadas com alta quantidade de proteína degradada no rumem, independente do tipo de dieta que receberam (Rhoads et al. 2006). Diante dessas observações, foi concluído que embriões gerados nas doadoras alimentadas com alto teor de proteína degradada no rumem sofreram ações anteriores à colheita ou então que os oócitos foram afetados ainda dentro do folículo (RHOADS et al., 2006).

Os relatos da literatura permitem reflexão acerca da hipótese de que possivelmente há uma conjunção de fatores e que é fundamental muito critério na utilização de uréia como fonte de nitrogênio não protéico na alimentação de vacas e novilhas, seja em programas de transferências de embriões, aspiração folicular para PIV ou simplesmente para preparo para a estação de monta a pasto. A condição de exposição do animal a uréia é o fator determinante que separa a possibilidade de oferecimento de fonte nitrogenada, da possibilidade de intoxicação e perdas econômicas, como o baixo desempenho reprodutivo ou óbitos. 

Tanto a categoria animal a qual a uréia é oferecida são fatores que determinam a condição de exposição (FERREIRA et al., 2008).
Sobre a categoria animal, vacas leiteiras parecem ser muito influenciadas, principalmente durante o intervalo parto-concepção, quando as maiores produções leiteiras e o balanço energético negativo são esperados (FERREIRA et al., 2008).

A administração da dieta total como forma de arraçoamento pode atenuar os efeitos da fonte de rápida degradação de nitrogênio como a uréia, pois tendo carboidrato na dieta suficiente para combinar-se com o grupo amido livre no rumem. Quanto menos amônia atingir a circulação, menor será a formação de uréia no fígado e, conseqüentemente, menos uréia circulante, que poderia atingir o útero, folículos e embriões, estruturas que parecem ser destituídas de mecanismo de detoxicação (FERREIRA et al., 2008).


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